segunda-feira, 15 de dezembro de 2014




Enquanto lia alguns sites de notícias para me atualizar do esgoto de nossa política, meu ouvido de tuberculoso estava atento a uma conversa de Sílvia e Carlito sobre música, com recorte na MPB.  Silvia dizia que a música atual é tudo muito igual, que nada de novo a representava. E fazia comparações com músicos, poetas e letristas do calibre de Nelson Cavaquinho, que estava em audição durante o papo. Aí eu entrei na conversa e falei que ela estava sendo muito radical com a comparação, até mesmo porque é uma covardia comparar a música  “rala”  de hoje com os grandes clássicos de antigamente. Sílvia argumentou que existem muitos artistas “Marcelo Jeneci de ser”. Tudo muito igual. Também concordo. Utilizam a mesma técnica vocal de garoto melancólico, voz anasalada e linear, achando que esse tipo de interpretação é a nova forma “cult” de ser. Pra mim, é de uma preguiça sem tamanhos. Fora que os artistas de hoje não sabem diluir seu talento em seus trabalhos.

E a começa ficou animada. Argumentei dizendo que tinha poucos artistas da safra atual interessantes, mas que seria uma covardia tamanha compararmos os artistas de hoje com os de ontem. Até porque a cultura mudou e como um camaleão se adaptou, por exemplo, às grandes mudanças tecnológicas.  A internet, com sua cultura de rede de regurgitar algo rápido e de fácil digestão para as pessoas hoje em dia, tirou todo o interesse delas de escutarem com mais atenção a profundidade das canções, seja em suas letras contundentes e em seus arranjos bem trabalhados, sofisticados, arrojados.  Sei que não dá para viver de nostalgia, é verdade. Sou da época pré internet. Para eu saber sobre algo bacana no cenário musical, eu tinha que comprar pilhas de revistas. Mas voltemos à questão da qualidade musical de hoje em dia e de outrora. Os artistas de hoje de uma certa forma, se contaminaram com essa cultura de fácil acesso. Fora a técnica de processo contínuo que todos se utilizam, inspirados em algum Jeca Tatu pós-modern. Os genéricos dos genéricos dos genéricos.


Pegue por exemplo, O quereres, do Caetano. Quando a escutei pela primeira vez, fiquei em, brasas, não só pelo fato de ser mais uma grande música dele, mas principalmente pela complexidade dela. É bom lembrar mais uma vez que não existia internet, logo, eu não tinha como pegar a letra de O quereres tão fácil. Tinha que aguardar uma edição de alguma revista musical, que sempre colocava letras de canções que estavam despontando no cenário longínquo dos anos 80. Para minha sorte, O quereres saiu na finada revista Bizz. E o que era mais agradável: os professores (pelo menos os que me ensinaram) adoravam conversar, comentar e discutir sobre as metáforas embutidas nas canções que sempre tinha curiosidade de entender.

E a pergunta de hoje é: temos um O quereres nos dias de hoje? Temos alguma letra com a proeza poética de ícones como Vinícius, Cartola, Nelson Cavaquinho, Caetano, Chico,  feita pelos Silvas, Jenecis, Camelos de hoje?  Coloco no plural porque deles surgiram tantos outros idênticos como eles. O genérico dos genéricos dos genéricos. As letras de ontem  me inquietavam e me faziam questionar. As de hoje tem frontal demais (risos). E pelo que vejo nos jovens hoje em dia, que absorvem uma cultura tão nula, inquietação é algo que infelizmente falta para a evolução na vida moderna. Se eu quero me interessar pelos artistas de hoje? Parafraseando Filipe Catto, “eu adoraria”. Mas eu fico aguardando, em posição de yoga, algo instigante para minha audição.