Não sei se é TOC ou uma mania boba, mas adoro fazer
listas de top 5, principalmente quando envolve um roteiro cultural, que costumo
fazer os fins de semana. Desde o início do ano, tenho registrado todos os
lugares que visito, filmes que assisto e espetáculos que aprecio. Assim fica
mais fácil para elaborar um texto de algo que me marcou. Está mais do que na
hora de me disciplinar esse ano.
Em meio a essa falta de organização, me lembrei que fui
assistir a peça “Animais na pista”, em cartaz no CCSP, a meca das bixinhas
coreógrafas. É bem divertido vê-las ensaiando os passos de dança com uma música
terrivelmente insuportável. E olha que nem a chuva as deixam desanimadas. Elas
acabam enfrentando a garoa paulistana, sacrificando até a progressiva que
fizeram. São bem empenhadas. Mas eu gosto de assisti-las, o que me faz lembrar
que eu também adorava dançar e fazer coreografias nas festinhas de aniversário
de vizinhos e colegas. E todo mundo adorava seguir os passinhos. Imaginei se
isso acontecesse nos dias de hoje o quanto de bullyng eu ia sofrer. Apedrejamento
em praça pública seria pouco.
Comprei meu ingresso e fui a procura de uma lanchonete
para tapear o estômago quando me encontro com Janjão, produtor cultural de teatro.
Ele também foi assistir a peça. Adoro quando essas (boas) coincidências
acontecem. Sempre combinamos de se ver pra jantar, mas com a correria, nunca dá
certo. Como estava faminto, fui comer algo e me encontrei com ele de novo
depois, na fila do teatro para entrar, já que a venda de ingressos não é
cadeira numerada e sim sequenciada. Tivemos
que encarar o tempo até abertura da sala para nossa entrada.
Começamos a papear
até a chegada do ator Tadeu di Pietro. Ele é muito educado e ficou com a gente
conversando, mas deicidiu colocar na pauta assunto relacionados ao governo. Ele
trabalhou no Ministério da Cultura na gestão de Gilberto Gil e depois com Juca
Ferreira. Só que ele engatou a segunda marcha e deslanchou em falar sobre
política. Quer dizer, ele monopolizou o assunto. É até interessante saber sobre os bastidores da política, ele estava
munido de muita informação. Mas ele falava só sobre isso. A minha cara de paisagem
já estava virando cara de caixa preta, de tão chata que estava a conversa.
Entramos na sala e para minha alegria, ele mudou de assunto.
Quando li a respeito de Animais na pista, me interessei
em assistir pelo fato de ser uma peça que se utilizava da linguagem do teatro
do absurdo. Foi a chance de rever o
trabalho de Sabrina Greeve, uma ex aluna do Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes
Filho. As relações amorosas são o mote nessa comédia de humor negro. A
personagem de Sabrina instaurou o caos emocional na relação com seu namorado e
sua melhor amiga, que também fica a fim do bofe da colega rival. O duro foi
aguentar o excesso de histeria no embate dos personagens, mediante a
fragmentação do texto com frases curtas oferecidas ao público sob um efeito
ácido. A peça teve momentos bons, mas sofreu com o efeito sanfona de se ter altos
e baixos no decorrer da trama. Saí da peça reflexivo, apesar da irregularidade
da montagem, me despedi de Janjão e fui pegar o metrô com a seguinte questão:
vale a pena chamar alguém pra lhe chamar de seu? Se depender da peça, que
mostrou de forma crua a vida solitária e sem rumo, acho pouco provável. Acho
que vou precisar de um drink à base de tarja preta para refletir a respeito.