segunda-feira, 30 de março de 2015


Não sei se é TOC ou uma mania boba, mas adoro fazer listas de top 5, principalmente quando envolve um roteiro cultural, que costumo fazer os fins de semana. Desde o início do ano, tenho registrado todos os lugares que visito, filmes que assisto e espetáculos que aprecio. Assim fica mais fácil para elaborar um texto de algo que me marcou. Está mais do que na hora de me disciplinar esse ano.


Em meio a essa falta de organização, me lembrei que fui assistir a peça “Animais na pista”, em cartaz no CCSP, a meca das bixinhas coreógrafas. É bem divertido vê-las ensaiando os passos de dança com uma música terrivelmente insuportável. E olha que nem a chuva as deixam desanimadas. Elas acabam enfrentando a garoa paulistana, sacrificando até a progressiva que fizeram. São bem empenhadas. Mas eu gosto de assisti-las, o que me faz lembrar que eu também adorava dançar e fazer coreografias nas festinhas de aniversário de vizinhos e colegas. E todo mundo adorava seguir os passinhos. Imaginei se isso acontecesse nos dias de hoje o quanto de bullyng eu ia sofrer.  Apedrejamento em praça pública seria pouco.



Comprei meu ingresso e fui a procura de uma lanchonete para tapear o estômago quando me encontro com Janjão, produtor cultural de teatro. Ele também foi assistir a peça. Adoro quando essas (boas) coincidências acontecem. Sempre combinamos de se ver pra jantar, mas com a correria, nunca dá certo. Como estava faminto, fui comer algo e me encontrei com ele de novo depois, na fila do teatro para entrar, já que a venda de ingressos não é cadeira numerada e sim sequenciada.  Tivemos que encarar o tempo até abertura da sala para nossa entrada. 

Começamos a papear até a chegada do ator Tadeu di Pietro. Ele é muito educado e ficou com a gente conversando, mas deicidiu colocar na pauta assunto relacionados ao governo. Ele trabalhou no Ministério da Cultura na gestão de Gilberto Gil e depois com Juca Ferreira. Só que ele engatou a segunda marcha e deslanchou em falar sobre política. Quer dizer, ele monopolizou o assunto.  É até interessante saber sobre os bastidores da política, ele estava munido de muita informação. Mas ele falava só sobre isso. A minha cara de paisagem já estava virando cara de caixa preta, de tão chata que estava a conversa. Entramos na sala e para minha alegria, ele mudou de assunto.

Quando li a respeito de Animais na pista, me interessei em assistir pelo fato de ser uma peça que se utilizava da linguagem do teatro do absurdo.  Foi a chance de rever o trabalho de Sabrina Greeve, uma ex aluna do Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho. As relações amorosas são o mote nessa comédia de humor negro. A personagem de Sabrina instaurou o caos emocional na relação com seu namorado e sua melhor amiga, que também fica a fim do bofe da colega rival. O duro foi aguentar o excesso de histeria no embate dos personagens, mediante a fragmentação do texto com frases curtas oferecidas ao público sob um efeito ácido. A peça teve momentos bons, mas sofreu com o efeito sanfona de se ter altos e baixos no decorrer da trama. Saí da peça reflexivo, apesar da irregularidade da montagem, me despedi de Janjão e fui pegar o metrô com a seguinte questão: vale a pena chamar alguém pra lhe chamar de seu? Se depender da peça, que mostrou de forma crua a vida solitária e sem rumo, acho pouco provável. Acho que vou precisar de um drink à base de tarja preta para refletir a respeito.