O foco e a concentração, graças a Deus, voltaram a
conviver pacificamente comigo. Para eu ler Schopenhauer em um metrô lotado, com
pessoas se esgoelando com vozes estridentes, devido ao transtorno de déficit
atencional que casualmente possuem para chamar atenção e eu conseguir ficar
extremamente concentrado na leitura, é motivo para me dar orgulho e comemorar.
O eletrochoque literário tem valido a pena. Tenho até trocado o sexo pelos
livros. Se bem que (risos) ainda não sei até quando irei suportar a troca.
Conversei com Helô hoje no almoço e disse que tenho sentido vontade de reciclar um pouco os meus
P.As – pau amigo (risos). Nada mais propício do que aproveitar o momento para
uma reflexão a respeito.
Aproveitei ontem para assistir a estreia de Os 10
mandamentos, nova novela da TV Record. Nunca prestei muita atenção nas
produções que a Record faz em teledramaturgia, apesar de ter acompanhado
algumas de forma protocolar. Me lembro que o remake de Escrava Isaura fez um
barulho e teve o mérito de revelar o
talento do ator Leopoldo Pacheco, hoje presença constante em novelas da Globo.
Teve também Vidas Opostas, que retratava na trama o submundo do tráfico com uma
versão às avessas de Cinderela. Como cheguei ontem em casa disposto a ver e, dependendo da minha animosidade, acompanhar a novela,
preparei o meu lanche e me pus a assistir. O que me chamou a atenção foi retratar a história
de Moisés, uma das personalidades mais apaixonantes da Bíblia. Um ser que não
tinha a preocupação de mostrar suas fraquezas, seus defeitos perante Deus, de
forma rabugenta e sempre questionadora. O capítulo de ontem mostrou uma
produção caprichada: começou com a matança dos bebês sob a ótica da irmã de
Moisés, acompanhando com muito sofrimento a situação por causa da gravidez de
sua mãe, Joquebede, mãe de Moisés. Me chamou a atenção um certo deslize com a
caracterização dos egípcios, que tinham mais cara (risos) de nativos de Quixeramobim do que de egípcios.
A maquiagem também não ajudou muito: o sangue vermelho em forma de vinho
Chalise cobrindo as costas dos escravos hebreus beiravam o amadorismo. Percebi
que a novela se arriscou um pouco na forma como conduzir a narrativa do
primeiro capítulo: enquanto em Babilônia o autor decidiu no primeiro capítulo centrar fogo nas
duas antagonistas, a novela bíblica decidiu dar destaque aos coadjuvantes –
como a personagem Yunet, a ama de Yutmire (Mel Lisboa) a filha do Faraó, que se
casa com o pretendente da mucama. Tem atores brilhantes, como Zé Carlos Machado
– o terapeuta Téo, de Sessão de Terapia, do GNT, que faz o faraó Seti I. Aliás, espero
que a direção dê espaço para Zé Carlos mostrar o seu talento; Mel Lisboa foi
competente, mas ainda espero que ela se disponha mais como atriz, mesmo em sua
breve participação. Achei que a Record acertou nas escolhas de locações para
produção da novela. Ver a cena do nascimento de Moisés, com o visual do deserto
de Atacama foi encantador. Mas li que a autora, Vivian Oliveira, pretende
colocar “tramas folhetinescas” para causar interesse no público e é aí que demonstro
minha preocupação. A história de Moisés é tão intensa que não acho necessário
costurar a história com subtramas para garantir audiência. Não é preciso
apimentar a novela com fatos que não existiram. Esse feitiço pode se virar
contra o feiticeiro e causar evasão no decorrer da história. E estou na
expectativa de ver o guapo Guilherme
Winter em ação como Moisés. Tem também o Sérgio Marone que, até que enfim fará
um papel que serve de oportunidade para sua maturidade como ator, fazendo o
faraó Ramsés II. Resta aguardar os próximos capítulos dessa soap opera épica para ver se me convence.