terça-feira, 24 de março de 2015



O foco e a concentração, graças a Deus, voltaram a conviver pacificamente comigo. Para eu ler Schopenhauer em um metrô lotado, com pessoas se esgoelando com vozes estridentes, devido ao transtorno de déficit atencional que casualmente possuem para chamar atenção e eu conseguir ficar extremamente concentrado na leitura, é motivo para me dar orgulho e comemorar. O eletrochoque literário tem valido a pena. Tenho até trocado o sexo pelos livros. Se bem que (risos) ainda não sei até quando irei suportar a troca. Conversei com Helô hoje no almoço e disse que tenho sentido vontade de reciclar um pouco os meus P.As – pau amigo (risos). Nada mais propício do que aproveitar o momento para uma reflexão a respeito.


Aproveitei ontem para assistir a estreia de Os 10 mandamentos, nova novela da TV Record. Nunca prestei muita atenção nas produções que a Record faz em teledramaturgia, apesar de ter acompanhado algumas de forma protocolar. Me lembro que o remake de Escrava Isaura fez um barulho e teve o mérito de revelar  o talento do ator Leopoldo Pacheco, hoje presença constante em novelas da Globo. Teve também Vidas Opostas, que retratava na trama o submundo do tráfico com uma versão às avessas de Cinderela. Como cheguei ontem em casa disposto a ver e, dependendo da minha animosidade, acompanhar a novela, preparei o meu lanche e me pus a assistir. O que me chamou a atenção foi retratar a história de Moisés, uma das personalidades mais apaixonantes da Bíblia. Um ser que não tinha a preocupação de mostrar suas fraquezas, seus defeitos perante Deus, de forma rabugenta e sempre questionadora. O capítulo de ontem mostrou uma produção caprichada: começou com a matança dos bebês sob a ótica da irmã de Moisés, acompanhando com muito sofrimento a situação por causa da gravidez de sua mãe, Joquebede, mãe de Moisés. Me chamou a atenção um certo deslize com a caracterização dos egípcios, que tinham mais cara (risos)  de nativos de Quixeramobim do que de egípcios. A maquiagem também não ajudou muito: o sangue vermelho em forma de vinho Chalise cobrindo as costas dos escravos hebreus beiravam o amadorismo.   Percebi que a novela se arriscou um pouco na forma como conduzir a narrativa do primeiro capítulo: enquanto em Babilônia o autor decidiu no primeiro capítulo centrar fogo nas duas antagonistas, a novela bíblica decidiu dar destaque aos coadjuvantes – como a personagem Yunet, a ama de Yutmire (Mel Lisboa) a filha do Faraó, que se casa com o pretendente da mucama. Tem atores brilhantes, como Zé Carlos Machado – o terapeuta Téo, de Sessão de Terapia, do GNT, que faz o faraó Seti I. Aliás, espero que a direção dê espaço para Zé Carlos mostrar o seu talento; Mel Lisboa foi competente, mas ainda espero que ela se disponha mais como atriz, mesmo em sua breve participação. Achei que a Record acertou nas escolhas de locações para produção da novela. Ver a cena do nascimento de Moisés, com o visual do deserto de Atacama foi encantador. Mas li que a autora, Vivian Oliveira, pretende colocar “tramas folhetinescas” para causar interesse no público e é aí que demonstro minha preocupação. A história de Moisés é tão intensa que não acho necessário costurar a história com subtramas para garantir audiência. Não é preciso apimentar a novela com fatos que não existiram. Esse feitiço pode se virar contra o feiticeiro e causar evasão no decorrer da história. E estou na expectativa de ver o guapo Guilherme Winter em ação como Moisés. Tem também o Sérgio Marone que, até que enfim fará um papel que serve de oportunidade para sua maturidade como ator, fazendo o faraó Ramsés II. Resta aguardar os próximos capítulos dessa soap opera épica para ver se me convence.