Canindé
– Ipu. Com o calor latente, entramos na caminhonete em direção a
Ipu, começo da região serrana do estado do Ceará. Pelo aplicativo, teríamos
ainda umas duas horas até chegar lá. No bis do dvd de retrospectiva do Fagner,
comentamos a respeito do preconceito à forma peculiar de falar e escrever do
nordestino e dos diversos tipos de sotaques que a região possui. Impressionante
as nuances e diferenças do jeito de falar do baiano com o pernambucano, o
cearense e por aí vai. E a riqueza da oratória deles com o palavreado. Como não
tinha nada pra fazer, dei uma cutucada de leve em Jeovani, dizendo que as
pessoas em geral criticam muito a forma de falar e o jeito de escrever do povo
nordestino – inseridos na falta de cultura e preconceito do brasileiro em
geral. Jeovani nem esquentou e soltou essa: “Nordestino não escreve nem fala
errado, Ele apenas escreve e fala do jeito único dele”. E existe povo mais
evoluído que esse?
Com o término do dvd do
Fagner (graças a Deus), Jeovani me deu uma ótima notícia: o aparelho sonoro
tinha bluetooth. Já saquei meu celular, entrei no meu 4G pra colocar Gilberto
Gil na abertura do setlist. Escolhi o Unplugged do mestre, não escutava há
bastante tempo. Tudo começou bem até chegar na quarta música, depois meu
celular ficou sem sinal e sem Gil. Jeovani me informou que ele tinha um pen
drive com os grandes sucessos do Raça Negra. Perguntei se era aquele
grupo do vocalista que cantava apenas com meia língua. Eu não iria suportar
aquele arranjo pobre e decadente, típico dos pagodeiros dos anos 90. Até porque
já (risos) tinha cumprido minha cota de chagas na Basílica. Vasculhei meu
Spotfy pedindo uma luz, quando de repente veio o “clarão” musical desejado:
havia uma playlist que já tinha baixado em situações de emergência como essa, sem precisar do uso da rede.
Para abrilhantar a viagem, uma sequência de músicas dignas de uma Realeza.
A estrada era bem ruim, cheia
de buracos, além de estar porcamente suja: havia um lixão na saída de Canindé,
na beira da estrada. O mais engraçado – mas infelizmente perplexo – era (risos)
ver restos de papel higiênico com aqueles “retratos de cús” rodopiando pela
estrada. Uma desgraça só. Assim que saímos dessa dimensão paralela, aumentamos
o som do carro e cantamos os pneus. A música que tocava naquele instante
benignamente insano fazia jus com aquela empolgação: “partimos loucos”, em
direção à Bica de Ipu