terça-feira, 17 de setembro de 2019


                                    



Canindé – Ipu. Com o calor latente, entramos na caminhonete em direção a Ipu, começo da região serrana do estado do Ceará. Pelo aplicativo, teríamos ainda umas duas horas até chegar lá. No bis do dvd de retrospectiva do Fagner, comentamos a respeito do preconceito à forma peculiar de falar e escrever do nordestino e dos diversos tipos de sotaques que a região possui. Impressionante as nuances e diferenças do jeito de falar do baiano com o pernambucano, o cearense e por aí vai. E a riqueza da oratória deles com o palavreado. Como não tinha nada pra fazer, dei uma cutucada de leve em Jeovani, dizendo que as pessoas em geral criticam muito a forma de falar e o jeito de escrever do povo nordestino – inseridos na falta de cultura e preconceito do brasileiro em geral. Jeovani nem esquentou e soltou essa: “Nordestino não escreve nem fala errado, Ele apenas escreve e fala do jeito único dele”. E existe povo mais evoluído que esse?

Com o término do dvd do Fagner (graças a Deus), Jeovani me deu uma ótima notícia: o aparelho sonoro tinha bluetooth. Já saquei meu celular, entrei no meu 4G pra colocar Gilberto Gil na abertura do setlist. Escolhi o Unplugged do mestre, não escutava há bastante tempo. Tudo começou bem até chegar na quarta música, depois meu celular ficou sem sinal e sem Gil. Jeovani me informou que ele tinha um pen drive com os grandes sucessos do Raça Negra. Perguntei se era aquele grupo do vocalista que cantava apenas com meia língua. Eu não iria suportar aquele arranjo pobre e decadente, típico dos pagodeiros dos anos 90. Até porque já (risos) tinha cumprido minha cota de chagas na Basílica. Vasculhei meu Spotfy pedindo uma luz, quando de repente veio o “clarão” musical desejado: havia uma playlist que já tinha baixado em situações de emergência como essa, sem precisar do uso da rede. Para abrilhantar a viagem, uma sequência de músicas dignas de uma Realeza.



A estrada era bem ruim, cheia de buracos, além de estar porcamente suja: havia um lixão na saída de Canindé, na beira da estrada. O mais engraçado – mas infelizmente perplexo – era (risos) ver restos de papel higiênico com aqueles “retratos de cús” rodopiando pela estrada. Uma desgraça só. Assim que saímos dessa dimensão paralela, aumentamos o som do carro e cantamos os pneus. A música que tocava naquele instante benignamente insano fazia jus com aquela empolgação: “partimos loucos”, em direção à Bica de Ipu