sábado, 14 de setembro de 2019




Fortaleza. Já estava puto com o esquecimento do meu óculos de sol, quando recebo pelo whats uma mensagem de Ranieri, da agência de turismo, perguntando se eu não poderia ir até ele resolver a questão do contrato. Na verdade a “questão” foi que o energúmeno comeu bola no contrato, não especificando a forma de pagamento do pacote que fechei. Quer dizer, por uma cagada dele eu teria que resolver mais um impasse. Como estava com minha baiana bem baixa, disse que iria com a condição de alguém me buscar no hotel (porque eu não sou obrigado).


Me colei e fiquei à espera na recepção do hotel, quando entra Jeovani, o motorista que a agência mandou para me buscar. Fiquei um pouco brochado pois esperava alguém mais (risos) "palpável", esteticamente falando. Mas Jeovani me cativou pela simpatia, nos apresentamos e fomos até a Nordeste Off Road.

Chegada na agência, conheci todos, incluindo Fladner, o dono. Me deu literalmente uma aula sobre o roteiro que iria fazer. Ele é historiador e foi uma simpatia em deixar Jeovani me levar a algum shopping para comprar meus óculos e depois me deixar em alguma praia. Durante o percurso conversamos sobre viagem, me perguntou como estava minha expectativa e eu disse que ela “estava imensa”. Nem eu sei direito o por quê de ter respondido dessa maneira. Só queria resolver logo as questões que trouxe comigo de bagagem e ficar que nem um calango na praia. Minha sorte foi que entramos em uma loja e a vendedora nos falou que havia uma promoção de óculos de sol da marca Visão, você comprava um e levava na faixa um segundo par. Escolhi dois pares lindos para debutar na praia. Paguei um preço bem camarada levando mais um a tiracolo. Me despedi da vendedora perguntando seu nome e ela respondeu prontamente "Lânia". Fiquei me perguntando que tipo de droga os nordestinos usam para escolherem nomes que denotam estranheza, como Fladner, Lânia, Joeldson, Adejanilson, Cleyslerson e por aí vai. Mas estava contente pelos 2 pares de óculos a preço de um. Que bom que a sorte estava caminhando ao meu lado.


Escolhi ir para a praia do Futuro. Jeovani gentilmente se ofereceu a me deixar lá. Indicou a 
barraca do Chico Caranguejo e eu aceitei a sugestão. Falamos sobre os artistas célebres da terrinha: elogiou o cantor Fagner, contando que o artista gosta muito da praia do Futuro. Confessei a ele que não era um artista que escutava muito, que respeitava Fagner como compositor, mas não tinha paciência para os “tiques” que ele costuma ter - como se tivesse mal de Parkinson quando ele interpreta suas canções, com aquela tremedeira no pescoço. Comentei que adorava ouvir suas composições nas vozes de grandes cantoras, como Elis Regina e sua interpretação soberba de Mucuripe. Essa mulher realmente causava um tremor na sua forma peculiar e intensa de interpretação. Por outro lado, descascou sua fúria sertaneja em cima de Renato Aragão, falando que o humorista era arrogante, preconceituoso mas nesse momento me desliguei desse papo de lavadeira de rio, assim que avistei o azul royal da cor do mar. 

Chegada à praia, fui atendido pelo funcionário Moisés, que já me instalou próximo ao mar e, a meu pedido, longe da raça humana. Queria apenas ouvir aquela quebrada que o mar dá na quina da areia. A maré estava cheia e revoltada, então achei melhor pegar um bronze apenas. Depois de algum tempo e duas caipirinhas, veio aquela vontade abcega, abmuda absurda de mijar. Pedi a Moisés para olhar minhas coisas.



Na hora de ir embora, achei melhor pegar um táxi, pois estava saindo em horário de rush. Me despedi de Moisés, agradecendo a atenção. O estranho foi ele perguntar se poderíamos ter um “encontrinho” depois e como naquela célebre interpretação da mesopotâmica Maria Bethânia, “assustada eu disse não” (risos). Com aquela cara e aquele abcesso no meio dos dentes superiores centrais, nem Iemanjá iria querer de oferenda. Sorry, periferia.