Fortaleza
– Canindé. Já engatando um tricô com Jeovani durante a
viagem, nem sentimos a hora passar. Que bom que o DVD do Fagner colaborou para
o tempo não nos cansar e passar em direção a nossa primeira parada, a cidade de
Canindé. Não tive uma boa impressão ao vê-la, mas é natural quando a cidade se
situa no começo do sertão do Estado. Sim, para chegar ao alto da região
serrana, devíamos passar pelo purgatório featuring
inferno da caatinga. Passamos na cidade para ver a grande atração turística da
cidade, a estátua de São Francisco das Chagas.
São Francisco das Chagas
Assim que chegamos, a pobreza do lugar já
se escancarava na minha cara, quando um jovem com a cara bem sofrida veio com
duas fitinhas de São Francisco e já me pedindo qualquer quantia pois estava com
fome. Tirei fotos rapidamente, pois o calor estava sufocante. Voltei para a
caminhonete, sem antes dar um dinheiro ao menino que me ofereceu – quer dizer,
vendeu – as fitas. Comprei uns chaveiros de lembrança. Entramos na land rover para nos banharmos no santo
ar condicionado e nos dirigimos à Basílica de São Francisco da Chagas.
Com o GPS trabalhando full
time e ouvindo a voz brochante do aplicativo, chegamos na Basílica. Mas não
havia nenhum lugar para estacionarmos. Tinha a praça da Igreja e tentamos
entrar lá, mas na chegada vimos correntes impedindo nossa entrada. Jeovani
chamou um menino jovem cor de jambo próximo à corrente, perguntando se não poderíamos ficar pelo menos
5 minutos com o carro estacionado para tirarmos fotos. Ele foi taxativo com aquele sotaque sedutor dizendo "pode, não". Aí eu coloquei a mão no ombro de Jeovani e disse “Deixa que eu resolvo”.
Ele ficou um pouco preocupado, já que (risos) eu estava naquela pinta bem
xoxotinha, com minha bolsinha a tiracolo.
Saí do carro, chamei o bofe e soltei o
texto, com a voz bem aveludada featuring menininha do Agreste: “Aaaaaaaaah, jura que não vai deixar a gente
entrar?! Querido é minha primeira vez na cidade e estou amaaaando conhecer
esse lugar (mentira). Deixa a gente ficar pelo menos uns 5
minutos para tirar foto da Basílica, vai?!” Na paisagem da minha mente dionisíaca emendei mentalmente “se deixar, até ajoelho para rezar em vc”. O jovem moreno jambo deu um sorriso maroto (será que era telepata?) e abaixou a corrente
para nos deixar passar. Simpatia é tudo na vida. Fui rapidamente tirar fotos,
quando uma senhora fazendo a linha moradora da Etiópia veio de forma invasiva
pedir “pelo amor de Deus” uma esmola. O pior é que ela não dava nem respiro
para falar. Falava constantemente sem parar. Aí eu incorporei a Roberta Close
que há em mim: sem saco para o chororô e saí de forma britânica perto dela. Até
que ela faria sucesso participando de um jogral. Pausa para fotos.
A Basílica é bem bonita, mas
não consegui entrar para tirar fotos por causa da missa. Entramos num galpão ao
lado da Igreja, onde as pessoas deixam seu sinal de agradecimento por alguma
graça alcançada, mas de forma bem sinistra: junto com uma carta de
agradecimento pelo desejo concedido, os fiéis deixam pedaços de corpos de
bonecos e de santos em uma caixa ou baú como forma de testemunhar o milagre
alcançado. Digno de uma cena de Walking Dead.
Fotos tiradas, fomos em
direção à caminhonete. Jeovani cronometrou o tempo que ficamos e saímos no
horário combinado. A velha pedinte do jogral insistiu novamente, mas me
esquivei a tempo e entrei no veículo. Jeovani entrou no carro dizendo: “Detesto
gente que pede esmola, não importa a idade. Por que não vai trabalhar?”. Na verdade, seria um pouco difícil já que aparentava ter uns 140 anos. Pelo jeito, eu não era o único
bipolar viajando. Agradeci o moreno
jambo que retribuiu com um sorriso bem maroto. O dia não dava sinais de quando
ia raiar. Só nos restou seguir viagem, rumo a Ipu e Ubajara. E na expectativa.