segunda-feira, 16 de setembro de 2019





Fortaleza – Canindé. Já engatando um tricô com Jeovani durante a viagem, nem sentimos a hora passar. Que bom que o DVD do Fagner colaborou para o tempo não nos cansar e passar em direção a nossa primeira parada, a cidade de Canindé. Não tive uma boa impressão ao vê-la, mas é natural quando a cidade se situa no começo do sertão do Estado. Sim, para chegar ao alto da região serrana, devíamos passar pelo purgatório featuring inferno da caatinga. Passamos na cidade para ver a grande atração turística da cidade, a estátua de São Francisco das Chagas. 

São Francisco das Chagas

Assim que chegamos, a pobreza do lugar já se escancarava na minha cara, quando um jovem com a cara bem sofrida veio com duas fitinhas de São Francisco e já me pedindo qualquer quantia pois estava com fome. Tirei fotos rapidamente, pois o calor estava sufocante. Voltei para a caminhonete, sem antes dar um dinheiro ao menino que me ofereceu – quer dizer, vendeu – as fitas. Comprei uns chaveiros de lembrança. Entramos na land rover para nos banharmos no santo ar condicionado e nos dirigimos à Basílica de São Francisco da Chagas.
  


Com o GPS trabalhando full time e ouvindo a voz brochante do aplicativo, chegamos na Basílica. Mas não havia nenhum lugar para estacionarmos. Tinha a praça da Igreja e tentamos entrar lá, mas na chegada vimos correntes impedindo nossa entrada. Jeovani chamou um menino jovem cor de jambo próximo à corrente,  perguntando se não poderíamos ficar pelo menos 5 minutos com o carro estacionado para tirarmos fotos. Ele foi taxativo com aquele sotaque sedutor dizendo "pode, não". Aí eu coloquei a mão no ombro de Jeovani e disse “Deixa que eu resolvo”. Ele ficou um pouco preocupado, já que (risos) eu estava naquela pinta bem xoxotinha, com minha bolsinha a tiracolo.

Saí do carro, chamei o bofe e soltei o texto, com a voz bem aveludada featuring menininha do Agreste: “Aaaaaaaaah, jura que não vai deixar a gente entrar?! Querido é minha primeira vez na cidade e estou amaaaando conhecer esse lugar (mentira). Deixa a gente ficar pelo menos uns 5 minutos para tirar foto da Basílica, vai?!” Na paisagem da minha mente dionisíaca emendei mentalmente “se deixar, até ajoelho para rezar em vc”.  O jovem moreno jambo deu um sorriso maroto (será que era telepata?) e abaixou a corrente para nos deixar passar. Simpatia é tudo na vida. Fui rapidamente tirar fotos, quando uma senhora fazendo a linha moradora da Etiópia veio de forma invasiva pedir “pelo amor de Deus” uma esmola. O pior é que ela não dava nem respiro para falar. Falava constantemente sem parar. Aí eu incorporei a Roberta Close que há em mim: sem saco para o chororô e saí de forma britânica perto dela. Até que ela faria sucesso participando de um jogral. Pausa para fotos. 


Basílica São Francisco das Chagas 


A Basílica é bem bonita, mas não consegui entrar para tirar fotos por causa da missa. Entramos num galpão ao lado da Igreja, onde as pessoas deixam seu sinal de agradecimento por alguma graça alcançada, mas de forma bem sinistra: junto com uma carta de agradecimento pelo desejo concedido, os fiéis deixam pedaços de corpos de bonecos e de santos em uma caixa ou baú como forma de testemunhar o milagre alcançado. Digno de uma cena de Walking Dead.



Fotos tiradas, fomos em direção à caminhonete. Jeovani cronometrou o tempo que ficamos e saímos no horário combinado. A velha pedinte do jogral insistiu novamente, mas me esquivei a tempo e entrei no veículo. Jeovani entrou no carro dizendo: “Detesto gente que pede esmola, não importa a idade. Por que não vai trabalhar?”. Na verdade, seria um pouco difícil já que aparentava ter uns 140 anos. Pelo jeito, eu não era o único bipolar viajando.  Agradeci o moreno jambo que retribuiu com um sorriso bem maroto. O dia não dava sinais de quando ia raiar. Só nos restou seguir viagem, rumo a Ipu e Ubajara. E na expectativa.