terça-feira, 24 de setembro de 2019





                           



Gruta de Ubajara. Saindo da cachoeira, andamos aproximadamente mais uma hora até chegarmos à  Gruta de Ubajara. Escutava atentamente Helio sobre suas explicações da flora e da fauna do parque, torcendo para encontrar algum bicho silvestre. O máximo para me contentar foi escutar o barulho que os macacos faziam enquanto passávamos por uma área de “posse” deles, os macacos são muito territorialistas. Mesmo na concentração com as observações do guia delícia, não tinha como não tirar os olhos de seu derrière formoso. Sorte a dele  - ou será que minha? -  dele estar na frente e nem ter percebido minha cobiça.




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Já começava a dar ares de cansaço quando Helio me avisa que a gruta estava a 5 minutos de distância. Perguntei se os 5 minutos era pra valer e ele respondeu que sim. Emendei no papo quando fui conhecer a Chapada Diamantina e no primeiro dia de trilha o grupo em que estava caminhou uma subida bem íngreme para chegarmos na primeira vista de contemplação. Só que essa subida demorou muito. Durante a caminhada, uma vez ou outra alguém do grupo perguntava “Falta muito para chegar?” e o guia dizia naquela safadeza baiana “Ah, sim, é logo ali”. O logo ali durou a eternidade de quase duas horas para termos a bendita vista por cima da Chapada. Helio entendeu a minha desconfiança e no tempo certo ele sinalizou: “Chegamos”.


                         
A entrada para a gruta ficava próxima do bonde desativado. Realmente uma pena não funcionar, fiquei imaginando a vista panorâmica que se deve ter com a subida dele. Mas não quis chorar o leite derramado, segui Helio para entrada da gruta. Pausa para tomar uma água, contemplar o entorno e escutar as recomendações do guia delícia. Nas pedras de entrada da gruta, vários escritos feitos nas rochas desde os anos de 1950. Quando Helio perguntou se estava pronto, meu esfíncter gelou e meu sétimo sentido bixístico me deu o alerta: “sem dar pinta porque está com a prega do koo dura de medo, OKAY veado”?



Percebendo meu nervosismo,  Helio me tranquilizou: dentro da gruta havia sinalizações e luzes para auxílio em nossa longa caminhada. Quando eu indaguei mentalmente “Longa”? um alegre e purpurinado morcego passou com suas asas de veludo por mim. E cheio de deboche. Que falta faltou um Baygon para enfiar na cara do bixano.


À medida que descíamos, os morcegos se proliferavam e aparecia em grupos. Era como você ser recepcionado por todos os membros da Família Adams. Perguntei a Helio se estávamos longe do nosso destino final e o guia aproveitou o gancho para ter seu momento "quero chamar a atenção e ganhar um emmy de figurante", soltando a pérola: “Não vai demorar não. É LOGO ALI”.

                  
Íamos descendo lentamente, quando do nada surgiu um barulho ensudercedor e eu, na tranquilidade de um pseudosurtado, rapidamente perguntei “MEU DEUS, O QUE É ISSO?” Helio disse que estávamos descendo e numa área onde os morcegos costumam dormir. Tínhamos acordado os mamíferos e, assim como eu, eles ficam de péssimo humor quando alguém os acorda. Vendo minha cara de aborto, Helio me tranquilizou avisando que eles estavam putos, mas os gritos era para alertar que a luz que estávamos usando os incomodava. Eles não iriam voar em nossa direção.

O caminho foi se transformando em labirinto e aos poucos, fui sentindo uma pequena claustrofobia. Me concentrei na aula de arqueologia ou antropologia que Helio estava dando e  fiquei impressionado com “peças” que foram lapidadas por milhares de anos.  Verdadeiras obras de arte.

                     
Quando Helio me disse que estávamos chegando ao fim de nossa jornada, respirei mentalmente aliviado. Mas como (risos) tinha muito pelo que pagar pelos meus pecados, o guia lasanha guardou a melhor notícia – para ele – no final: “Teremos que passar de novo pelos morcegos”. Como queria ter alguma mulher bomba para explodir aqueles bichos. Foi passar de novo com as luzes das lanternas e aquela gritaria típica de lavadeira de rio. Um frisson só. Senti minhas mãos formigarem, achei que sofreria um AVC. O cagaço era tanto que não tinha sequer reparado que (risos) estava falando alto pra toda aquela morcegada escutar e meu guia também. 

Foi uma experiência incrível, principalmente por confrontar meus medos. Foram os 20 minutos mais intermináveis de minha vida. Na saída, pausa para recobrar “meus sais” e tomar uns 600 litros de água. Descemos por mais 40 minutos, contemplando as belas árvores que nos davam de presente uma sombra confortante nesse fim de trajeto. Ao fim da trilha, Jeovani já nos aguardava para nos levar de volta à pousada e eu querendo uma “rede preguiçosa pra deitar”. Mas me lebrei que não tinha rede na pousada. Estava ainda sob o efeito vertiginoso da gruta. O jeito foi me jogar nos braços de Gil na estrada e relaxar.