Gruta
de Ubajara. Saindo da cachoeira, andamos aproximadamente mais uma hora até chegarmos à Gruta de Ubajara.
Escutava atentamente Helio sobre suas explicações da flora e da fauna do
parque, torcendo para encontrar algum bicho silvestre. O máximo para me contentar foi escutar o barulho que os macacos faziam enquanto passávamos por
uma área de “posse” deles, os macacos são muito
territorialistas. Mesmo na concentração com as observações do guia delícia, não
tinha como não tirar os olhos de seu derrière formoso. Sorte a dele - ou será
que minha? - dele estar na frente e nem ter percebido minha cobiça.
Já começava a dar ares de
cansaço quando Helio me avisa que a gruta estava a 5 minutos de distância. Perguntei se os
5 minutos era pra valer e ele respondeu que sim. Emendei no papo quando fui
conhecer a Chapada Diamantina e no primeiro dia de trilha o grupo em que estava
caminhou uma subida bem íngreme para chegarmos na primeira vista de
contemplação. Só que essa subida demorou muito. Durante a caminhada, uma vez ou
outra alguém do grupo perguntava “Falta muito para chegar?” e o guia dizia
naquela safadeza baiana “Ah, sim, é logo ali”. O logo ali durou a eternidade de
quase duas horas para termos a bendita vista por cima da Chapada. Helio
entendeu a minha desconfiança e no tempo certo ele sinalizou: “Chegamos”.
A entrada para a gruta ficava
próxima do bonde desativado. Realmente uma pena não funcionar, fiquei
imaginando a vista panorâmica que se deve ter com a subida dele. Mas não quis
chorar o leite derramado, segui Helio para entrada da gruta. Pausa para tomar
uma água, contemplar o entorno e escutar as recomendações do guia delícia. Nas pedras
de entrada da gruta, vários escritos feitos nas rochas desde os anos de 1950.
Quando Helio perguntou se estava pronto, meu esfíncter gelou e meu sétimo
sentido bixístico me deu o alerta: “sem dar pinta porque está com a prega do
koo dura de medo, OKAY veado”?
Percebendo meu
nervosismo, Helio me tranquilizou:
dentro da gruta havia sinalizações e luzes para auxílio em nossa longa
caminhada. Quando eu indaguei mentalmente “Longa”? um alegre e purpurinado
morcego passou com suas asas de veludo por mim. E cheio de deboche. Que falta
faltou um Baygon para enfiar na cara do bixano.
À medida que descíamos, os
morcegos se proliferavam e aparecia em grupos. Era como você ser recepcionado por
todos os membros da Família Adams. Perguntei a Helio se estávamos longe do
nosso destino final e o guia aproveitou o gancho para ter seu momento "quero chamar a atenção e ganhar um emmy de figurante", soltando a pérola: “Não vai demorar não. É
LOGO ALI”.
Íamos descendo lentamente,
quando do nada surgiu um barulho ensudercedor e eu, na tranquilidade de um
pseudosurtado, rapidamente perguntei “MEU DEUS, O QUE É ISSO?” Helio disse que
estávamos descendo e numa área onde os morcegos costumam dormir. Tínhamos
acordado os mamíferos e, assim como eu, eles ficam de péssimo humor quando
alguém os acorda. Vendo minha cara de aborto, Helio me tranquilizou avisando que
eles estavam putos, mas os gritos era para alertar que a luz que estávamos
usando os incomodava. Eles não iriam voar em nossa direção.
O caminho foi se
transformando em labirinto e aos poucos, fui sentindo uma pequena
claustrofobia. Me concentrei na aula de arqueologia ou antropologia que Helio
estava dando e fiquei impressionado com
“peças” que foram lapidadas por milhares de anos. Verdadeiras obras de arte.
Quando Helio me disse que
estávamos chegando ao fim de nossa jornada, respirei mentalmente aliviado. Mas
como (risos) tinha muito pelo que pagar pelos meus pecados, o guia lasanha
guardou a melhor notícia – para ele – no final: “Teremos que passar de novo
pelos morcegos”. Como queria ter alguma mulher bomba para explodir aqueles
bichos. Foi passar de novo com as luzes das lanternas e aquela gritaria típica
de lavadeira de rio. Um frisson só.
Senti minhas mãos formigarem, achei que sofreria um AVC. O cagaço era tanto que não tinha sequer reparado que (risos) estava falando alto
pra toda aquela morcegada escutar e meu guia também.
Foi uma experiência incrível,
principalmente por confrontar meus medos. Foram os 20 minutos mais
intermináveis de minha vida. Na saída, pausa para recobrar “meus sais” e tomar
uns 600 litros de água. Descemos por mais 40 minutos, contemplando as belas
árvores que nos davam de presente uma sombra confortante nesse fim de trajeto.
Ao fim da trilha, Jeovani já nos aguardava para nos levar de volta à pousada e eu querendo uma “rede preguiçosa pra deitar”. Mas me lebrei que não tinha rede na
pousada. Estava ainda sob o efeito vertiginoso da gruta. O jeito foi me jogar
nos braços de Gil na estrada e relaxar.