domingo, 29 de setembro de 2019




Parque Nacional de Sete Cidades. Almoçamos rapidamente e partimos rumo ao Parque Nacional de Sete Cidades. Para nossa sorte, o hotel ficava bem próximo do local. No carro, comentamos sobre o atendente do hotel, que estava longe de ser civilizado. Só faltava ruminar. Lógico que tiramos sarro do distinto, fiquei me referindo a ele o tempo todo como o primo distante da Juma Marruá, do Pantanal. Ok, há pessoas que odeiam seres humanos e eu (risos) não tiro a razão, mas por que cargas d´água você decide trabalhar numa área onde você tem a obrigação sim, de tratar bem o ser humano ou hóspede ou o que seja? Eu querendo tirar o gosto da comida do hotel e Jeovani já vendo miragens e comentando que estava com uma vontade louca de comer uma “Panelada”; perguntei do que se tratava e ele descreveu que é uma comida típica cearense feita com tripa e miúdos de boi e de porco. Resumindo, um nojo só.  



O calor estava exorbitante, no momento que chegamos ao parque a sensação térmica estava batendo os 42 graus. Um ponto negativo no roteiro que estava fazendo, afinal de contas, era praticamente um suicídio querer andar na parte da tarde. Entramos no parque ao encontro de Janaína, que estava nos aguardando para a trilha. Fiquei feliz por uma mulher estar no roteiro para nos guiar.

Assim que chegamos no QG do parque, fomos apresentados à equipe de trabalho do parque e à Janaina, que já me fez sentar em frente a uma mesa e me explicar em forma resumida sobre a história do Parque de Sete Cidades. Terminada a aula, ela nos apresentou Elizete, nos informando que seríamos monitorados por ela. Perguntei se eram irmãs e Elizete já deu um “somos, sim, sou a mais nova”. Janaína soltou uma gargalhada e nos deixou à vontade para darmos início à expedição no parque. E pelas brotoejas em forma de jaca estampada na cara de Elizete, não tinha nenhuma dúvida que a mais velha era ela (risos).

A trilha mesclava entre caminhadas não muito extensas e a santa SW4 de Jeovani. Para melhorar, na maioria das trilhas para conhecermos as pinturas rupestres teríamos a proteção de árvores centenárias nos dando a tão abençoada sombra. No primeiro monumento do parque, uma obra de se admirar: a Pedra da Tartaruga.


                                


Era de se impressionar com tamanha grandiosidade essa obra esculpida há séculos pela natureza. Quando você tem o primeiro contato visual, acha que está numa pegadinha, levando a crer que em algum momento teve alguma intervenção humana. Fiquei admirado com tamanha perfeição dos detalhes que me levou a crer em alguma interação. Elizete nos levou em outro ângulo para contemplar a paisagem. Estado de queixo caído para fotos.





Passamos por uma pedra em formato de arco. Elizete nos contou que antes de passarmos pela pedra deveríamos fazer um voto de agradecimento e três pedidos. Sem me fazer de rogado, me lembrei de uma célebre frase da poderosa Odete Roitman, personagem insofismável da novela Vale Tudo e fiz meu agradecimento a Deus “por ter nascido colonizado nesse país triste que até Deus esqueceu” (risos). Fiz meus 3 pedidos, passei por debaixo do arco e seguimos para primeira pedra de pinturas rupestres.






                        

                                             

À medida que conhecíamos as pinturas e toda a história por trás delas, fiquei imaginando como naquela época, com tão pouco recurso, havia uma fonte inesgotável de criatividade para se comunicar. Que o diga os sumérios, com sua sabedoria ímpar na comunicação com outros povos. Se hoje temos nossa forma de se comunicar, devemos agradecer e muito a eles pela precursão de tudo. O mais curioso também foi ver, durante a trilha,  algumas pedras com formas que me remetiam a algum ser vivo conhecido. Mesmo com a sensação térmica a 48 graus e quilos e quilos de protetor solar, fiquei viajando nessas obras de arte esculpidas sabiamente e pacientemente pelo tempo. Ou será que já estava vendo miragens?


                   

                    

Assim que entramos na SW4, vimos no visor que a sensação térmica batia nos 50 graus. Realmente tive a sensação de estar numa chapa de padaria, sendo tostado feito bacon. O que nos deu força a continuar foi termos visto alguns mocós, bichos roedores parentes da cutia. Uma família até foi amigável em deixar a gente chegar perto para tirarmos fotos, geralmente são bichos muito ariscos.

            

Para completar o roteiro, Elizete nos levou a um olho d´água que infelizmente estava seco. Fiquei na expectativa porque com aquele calor queria muito poder evaporar ali mesmo. Desejei muito em ver alguma cobra, mas não tivemos sorte. Aproveitando a pauta, Elizete nos falou que sempre quando tem turista que morre de medo de cobra e está visitando o parque, elas acabam aparecendo. Exemplificou de uma mulher que ao ver uma na trilha, deu um ‘piti’ e ficou o tempo todo na van, xingando a tudo e a todos. Azar o dela, afinal o habitat é da bixana e não dela. Com minha energia se esvaindo e faminto, pra piorar, Jeovani pergunta a Elizete se a mulher era casada e a guia gentilmente respondeu que sim, para ele soltar a pérola mirabolante a la Praça é Nossa: “se ela é casada, por que ter medo de cobra se ela já viu uma?” Nesse momento olhei para o nada, inspirado na cara de quarta parede e gritei: “OLHA UMA IGUANA!” e ambos viraram procurando pelo bicho. Na verdade, foi uma tática para mudarmos de assunto; já estava com minha cota de escuta de piada sem graça de duplo sentido preenchida. Foi uma forma educada de dizer “Caguei”.