domingo, 22 de setembro de 2019





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Ubajara – Parque Nacional. O ar puro da serra cearense abriu bem o meu desvio do septo e recobrou um astral que não tinha há séculos. Pra se ter uma ideia, eu sequer fazia noção de qual dia da semana estávamos, além de São Paulo nem existir na paisagem da minha lembrança. E para meu bem-estar continuar de vento em polpa, não me contaminar com as notícias do dia a dia. O máximo que me permito é ficar de camarote vendo as pessoas se degladiarem por causa das notícias políticas, no Facebook da vida. Meu trabalho de limpeza astral estava só começando.



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Me encontrei com Jeovani às 7h para tomarmos café. Dois funcionários estavam no refeitório, um deles uma versão Pokemón evoluída do gerente chato que queria a todo custo nos vender o chá de amora. Mas ele não nos amolou, foi uma graça em ficar calado e só responder o necessário. Pedi ovos mexidos, enquanto me jogava na granola com iogurte. A flora intestinal agradece.

Jeovani só tomou uma xícara de leite sem nada a acrescentar. Comentei com ele que na noite anterior, antes de ir lanchar, tinha ido ao banheiro para urinar e assim que levantei o bidê...surprise! Uma nojenta perereca ali de estátua viva, me intimando com seu olhar sinistro e hipnotizante. Até porque eu (risos) fiquei uma estátua viva também. Fiquei arquitetando de que forma poderia fazer para empurrar essa anfíbia, mas ao primeiro movimento feito, a desgraçada já fez ares de que iria dar aquele mega salto ornamental em minha direção. Aí não me restou tomar uma drástica atitude: chamar o funcionário da pousada para retirar aquele bicho pré histórico dali. Enquanto mastigava meu misto quente, já na lanchonete, ele veio me avisar que já tinha tirado ela do banheiro. O pior é a humilhação de ver aquele senhor dando a informação, com a quina da boca disfarçando um riso maroto featuring querendo gargalhar horrores. Me perguntou se (risos) eu não gostava de perereca, e eu rapidamente retruquei: “E você tem alguma dúvida”? (risos). Perereca, pra mim, só no brejo.

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Hélio chegou pontualmente às 7h40 para darmos início à caminhada pelo Parque Nacional de Ubajara. Últimos ajustes com roupas leves, banho de protetor e pronto: bastou apenas 7 minutos de carro para chegarmos ao Parque. Assim que entramos, Helio nos levou ao primeiro mirante, com uma vista de saltar os olhos. Na verdade, foi uma estratégia para aguardarmos enquanto ele trocava de roupa. Foi meu primeiro estado de choque do bem com aquele visual impressionante. Jeovani e eu ficamos em êxtase com a paisagem do lugar.





Com Helio de roupa trocada, me chamou para entrarmos na mata. Iríamos fazer uma trilha de descida que duraria umas 4 horas. Jeovani iria nos esperar no ponto final de nossa caminhada e para isso, ele teria que descer pela estrada, para nos encontrar. Antes de iniciarmos, vi umas obras de artistas locais que me chamou a atenção. Parei para tirar algumas fotos. Na entrada da trilha, um banner com os protagonistas da região, os animais silvestres que vivem pelo parque. Fiquei surpreso com uma que me fez sentir representado pela fauna.

                 A bicharada – em todos os sentidos - agradece.




Pontapé inicial, entrada na mata com pé direito e a caminhada começando a trilhar. Helio sempre pontuando as características do Parque, os tipos de flora e fauna peculiar da região. Enquanto caminhávamos, me chamou a atenção alguns cipós abraçados a uma árvore e Helio me explicou que esse cipó é um tipo de hospedeiro, que “suga” toda a energia da árvore pela raiz, ganhando força para asfixiá-la até tombá-la. E ela já estava bem contorcida. Pois é, até na flora a gente tem que presenciar seres bem oportunistas. 







                                   







Aproveitei o gancho e perguntei a Helio o motivo do famoso bonde do parque não estar funcionando e a resposta me deixou mais perplexo do que eu já estava, quando me omitiram a informação de que ele estava interditado para reparos. Na verdade, o bonde está há 4 anos parado e o motivo é que, segundo ele, o parque é administrado pelo governo federal e o bonde é de responsabilidade do Estado e um fica jogando a responsa em cima do outro para manutenção do equipamento. Ele conta que isso afugentou muitos turistas que infelizmente vão ao parque por causa do bonde, apenas. Depois de contemplar belas paisagens em alguns mirantes colocados de forma estratégica para um respiro, chegamos na Cachoeira do Cafundó para refrescar a pele e a alma. O nome da cachoeira foi dado em homenagem ao povo indígena Cafundó, dizimado e extinto pela ganância humana. Pausa para recobrar a dignidade,  tirar mais fotos e me preparar para segunda parte da trilha: a entrada na Gruta de Ubajara.



                            
                                         Cachoeira do Cafundó